Senti uma vontade imensa de beijar suas olheiras. De grudar meu olhar em você e não soltar nunca mais. Olhei suas fotografias e ri cada vez que lembrei sua cara de culpado quando me espera notar algo que você fez e o sorriso que vai crescendo conforme você observa pela minha compleição que eu notei. … Continue reading Um conto (de romance) pra peixe-boi dormir
Subo no ônibus, as lágrimas irrompendo de meus olhos inchados de sono. Não há ninguém de quem me despedir. Me sento à janela e tomo um gole d'água - é de manhã e a chuva da noite anterior deixou um frescor agradável com sabor de domingo. Choro, desesperada, só, e a música no meu fone … Continue reading Manancial
22h45 de uma segunda-feira de carnaval. Deixo meus olhos acima do horizonte, flutuando com o ritmo de uma arquitetura que pulsa. Fico estarrecida com a sequência díspar de edificações. Depois, dou de cara com um casal desabrigado, ele estirado nos braços dela, os dois enrolados num cobertor – guardados do mundo sob a fachada de … Continue reading 22h45
Sento numa padaria com Rubem. Peço uma tapioca e um chocolate frio. À minha frente, um homem de semblante triste, mãos entrelaçadas na altura do rosto, ouve um programa religioso no rádio do celular. Isso me incomoda, mas ele parece tão triste. Tenho vontade de lhe perguntar se está tudo bem e manda-lo desligar o … Continue reading Todos os caminhos
Os jardins daqui quase me fazem esquecer do calor. Fico hipnotizada observando o jardineiro molhar as plantas, o pé direito apoiado num banco, mão na cintura, ar despreocupado. "Vocês mudam muito os jardins aqui? Tenho a impressão de que nunca observo os mesmos canteiros." "A gente tá trocando porque algumas plantas estão antigas já." Antigas? … Continue reading Toca o telefone (#tbt)
Já vi um bocado de coisa bonita e não saberia dizer qual foi a mais incrível. Mas lembro do vento quente batendo no meu rosto e da escuridão da BR violada pelo farol do carro. Era noite e a estrada estava vazia e escura. Meu pai dirigia em silêncio, e estávamos em algum lugar no … Continue reading Opaco
Estou sempre na estrada. Cruzo o mesmo caminho, ida e volta, às sextas e domingos. Esse vai e vem me lembra um curta-metragem (coreano?) que assisti na MFL sobre um rapaz que já tinha feito a mesma viagem mais de duzentas vezes na linha de trem em que trabalhava. A estrada adquiriu aquele aspecto esmaecido … Continue reading Passageiro
Tive um pesadelo e acordei me sentindo nua. Estou num lugar estranho, sonhando coisas estranhas e minha barriga se sente triste. Todo o resto do meu corpo se sente brisa, e o dia amanheceu bem tarde. Ele tem uma cicatriz na barriga e a voz carinhosa. Eu tenho hematomas espalhados por todo corpo e minhas … Continue reading Se machucar, avisa
Entrei na biblioteca hoje e por acaso fui parar de cara na prateleira do Garcia Marquez. Pareceu um sinal do universo... "A solidão é uma coisa ridícula, tome alguns livros e se esqueça". Continuei trabalhando no meu projeto pro nosso aniversário binário, não sei por que. Há alguns dias não recebo notícias suas, me pareceu … Continue reading Raízes
Ao abrir a minúscula janela da cozinha, Madrugada vislumbrou o asfalto molhado e fechou os olhos para sentir a brisa fresca da manhã depois de uma noite inteira de chuva. Ela tinha passado por uma tempestade também e temia a calmaria do dia pálido. Era possível que a qualquer momento um pensamento ruim passasse de … Continue reading De Madrugada